1 de out. de 2007

Como já disse, gosto muito de ler. As crônicas de Clarisse Milano são muito boas! Compartilho com vocês!

Igual mas diferente

Tem acordado sempre do mesmo modo. Com aquela dificuldade de levantar-se da cama, tomar aquele banho revigorante, tomar seu nutritivo café da manhã para ter forças para vencer mais um dia. Se ela vivesse seu dia como se estivesse em um parque de diversões talvez fosse mais fácil levantar, mas não! Insiste em viver em constante obrigação. Inseriu sobre seus ombros uma carga que no passado poderia, indubitavelmente, carregar. Agora, no presente, sente-se exausta. Quer seguir deitada em sua cama como se isso pudesse resolver seus imensuráveis tormentos. Acordou e pensou: “Hoje farei o que tenho vontade! Farei o que me dá prazer! No momento quero ficar aproveitando minha cama macia!”. E lembrou-se do dia em que comprou o seu tão desejado colchão de molas. Indagou se realmente valeu a pena ter se estressado com problemas financeiros para ter adquirido o tão sonhado colchão e teve consciência de que, por três anos, deitava-se nele sem nunca ter notado o quão bom era ficar ali embaixo das cobertas. E por ali ficou por mais alguns poucos três minutos, porque em seguida suas obrigações vieram-lhe à mente. Como se cada obrigação fosse sinônimo de pesados sacos de areia que deveriam ser carregados até quilômetros de distância dali. Como queria carregar chumaços de algodão! Levantou-se sempre dizendo para si que aquele seria um dia diferente. Faria o que lhe desse prazer. Foi para o chuveiro e conseguiu sentir prazer enquanto a água quente caía sobre suas costas. Três vezes pensou em fechar a ducha para cair em sua rotina estafante novamente e por três vezes desistiu. Estava bom demais. Quando sua pele murchou resolveu tomar um café de celebridade. Ela merecia isso. Hoje seria um dia diferente. Foi ao pomar. Colheu algumas frutas, outras pegou da fruteira. Enquanto aquecia o leite, pegou os pães dormidos e cortou-os bem fininhos para fazer torradas. Levou as frutas, dentro de um cesto, para a mesa. Voltou à cozinha para servir-se do leite quente. Uma colher de café e duas de açúcar. A fumaça evaporava lentamente. Ela aproximou seu nariz desta, fechou os olhos e inspirou profundamente, como se, enquanto a fumaça percorresse seu interior, ela mesma percorria-se por inteiro. E gostava daquilo! Ali havia ganhado seu dia. Conseguiu sentir prazer nos mínimos detalhes da vida. Esboçou um sorriso entre seus lábios que começou a aumentar, aumentou tanto que gargalhadas tomaram conta de si a ponto de rolar no chão. Riu tanto, mas tanto, mas tanto, que seu abdome doeu. Mas a dor era boa! Era de realização, de descoberta, de prazer. Parou. Viu como estava antes - sem ânimo para viver. Viu como estava naquele momento – com plena felicidade. E como num passe de mágica, graças ao livre-arbítrio, resolveu continuar com a experiência mais nova. Descobriu o sentido de viver e isso, ninguém poderia, jamais, tirar-lhe. E ninguém tiraria dela, nem mesmo ela!

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