4 de set. de 2007

Além de trabalhos manuais gosto muito de literatura. Este texto foi publicado na Zero Hora. Gostei e compartilho com vcs!



04/09/2007
Todos os ventos
Moro num lugar aberto a todos os ventos do Hemisfério Sul. Por vezes desperto de madrugada com a sensação que se deslocou o eixo do universo. Mas logo percebo que as vidraças tremem, que as venezianas gemem, apenas porque se soltou a inquietude austral dos descompassos do tempo.Sempre vivi na mesma área central da cidade de Porto Alegre. Na infância, ainda na Rua João Manoel, minha mãe bloqueava com serpentes de areia a ira dos elementos. Agora, aqui na Rua Duque, o apartamento é açoitado por vendavais e se curva feito um ramo na tempestade. Não me assusto.É que, da aparente fragilidade do ato de existir, aprendi uma lição essencial. A de que nenhuma jornada é somente constituída de bonança. Mister é que a abalem turbilhões ocasionais, para que se exercite o poder de sua resistência e nesta procure e recupere a serenidade.Aprendi um outro ensinamento fundamental: o de que a cada noite corresponde sua aurora. Isso vale para cada passo de nossa trajetória sobre a Terra. Por vezes nos defrontamos com desafios tão ásperos como as tormentas. Mas há dentro de nós insuspeitadas energias que nos permitem recobrarmos a tranqüilidade anterior e, assim como amaina o som e a fúria das vagas, se aquieta nossa alma e torna a pulsar tranqüilo nosso coração.Não faz muito encontrei um amigo a quem parecia terem ocorrido todos os tropeços e derrapagens da vida. Tornei a vê-lo agora, aprumado e seguro, em paz consigo e com o mundo.Tinha assimilado uma noção singela: a da própria fortaleza íntima, a mesma que pulsa em você, em mim, por mais irados e indomáveis que se mostrem todos os ventos. (Liberato Vieira da Cunha)

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